O torrista, a volta do Programa de Oncobiologia, Luedji Luna e +
O que acontece nos bastidores da sua rádio educativa
Bom dia pra você que acompanha o dia a dia da rádio educativa do seu coração e nos enche de carinho toda sexta-feira! Foi uma semana daquelas, com operações policiais desastrosas, Linha Vermelha e Brasil fechadas por tiroteios, clima político agitado com réus militares no STF e Congresso peitando o governo. Sem falar no fim de semestre, que sobrecarrega todo mundo, com mil demandas.
No meio disso tudo, São Pedro não colaborou e nossa antena não pôde ser posicionada na torre de transmissão da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). É uma operação complexa, pois a antena precisa ser afixada a 70 metros do nível do solo (que lá em cima, no Parque Nacional da Tijuca, já é uns 700 metros acima do nível do mar).
Pra você que acompanha a novela do torrista e também se surpreendeu com a existência desse profissional, trago informações mais detalhadas. Estou em contato direto com o Breno Pimenta Delling, engenheiro civil e eletricista, da empresa Suporte Transmissão de TV e FM. Ele lidera a equipe formada pelos montadores de antenas Wagner Lacerda Lana e Rafael Silva Trindade, que estão trabalhando desde quarta-feira no Sumaré.
O carro-chefe da empresa é a montagem de sistemas irradiantes de alta potência, além da venda e assistência técnica em sistemas de rádio e TV, e eles já prestaram serviços em todos os estados do Brasil. A parte mais delicada é a instalação de antenas em torres de transmissão, que exige o uso de equipamentos de proteção individual completos e envolve técnicas de alpinismo, como o rapel. “A instalação é feita via guincho elétrico, com içamento por cabo de aço”, explica Breno. “Chuva é um impeditivo do trabalho.” Vamos torcer pra tudo secar e eles conseguirem espetar nossa antena lá no alto ainda hoje.
Não pude estar com ele e a equipe, pois estou fora do Rio. Escrevo a newsletter de Curitiba, onde vim participar do 34º Encontro Anual dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Apresentamos, eu e minha orientanda de mestrado, Isabela de Souza Vieira, um trabalho no GT Estudos Radiofônicos justamente sobre os desafios à expansão da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP). Quem quiser, pode conferir o texto aqui, mas antecipo que traz um retrato das dificuldades enfrentadas por muitas rádios universitárias em fase de implantação, como a Rádio UFRJ FM. Recursos são um tremendo gargalo. Como contei semana passada, se não fossem emendas parlamentares, não teríamos saído da estaca zero.
Nunca é demais lembrar, portanto, da nossa campanha de financiamento coletivo, com apoio da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB), para comprar equipamentos fundamentais para a operação em Frequência Modulada. Agora você pode fazer um Pix recorrente pra chave radio@forum.ufrj.br, ajudando a gente a comprar equipamentos, pagar bolsas e fazer bonito no dial carioca. Se você quiser dar um apoio cultural (em troca de menção de marcas ou instituições), pode escrever pra gente nesse mesmo e-mail. Bora contribuir pra expansão da comunicação pública e educativa?
A edição de hoje traz também informações sobre a volta do Programa de Oncobiologia, o novo álbum da nossa musa Luedji Luna e mais. Abraços sonoros e boa leitura!
Marcelo Kischinhevsky, diretor da Rádio UFRJㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
Rádio na luta contra o câncer
Na próxima quarta-feira, 18 de junho, às 10h, estreia nova temporada do Programa de Oncobiologia, conteúdo aprovado em nossa 6ª chamada pública. Mais do que um programa radiofônico, trata-se de uma iniciativa multidisciplinar e interinstitucional, reunindo áreas que vão da biologia celular e molecular à comunicação científica. Surgiu nos anos 2000, no Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ, e hoje reúne mais de 50 grupos de pesquisa e mais de 500 cientistas de quase 10 instituições do Rio de Janeiro.
Na coordenação científica estão os professores Robson Monteiro e Gabriela Nestal de Moraes, ambos pesquisadores da área do câncer e do IBqM. Conversei com o coordenador da Divulgação Científica do Programa de Oncobiologia, Felipe Siston, graduado em Jornalismo e doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ, que teve a ideia do conteúdo radiofônico.
Siston divide a locução dos episódios com Julia Miranda, biomédica formada pela UFRJ e integrante do coletivo BEM+ Laboratório Informal, que atua com ciência cidadã e comunicação popular. Julia foi uma das precursoras na divulgação de ciências e fundou o seu canal no Youtube em 2011. O programa conta com apoio da ONG Criar Brasil, referência em comunicação democrática, que viabilizou a gravação do conteúdo.
O projeto envolve estudantes de diferentes cursos – Biomedicina, Medicina, Farmácia, Biologia – que participam de forma criativa, como no episódio de divulgação científica em que interpretaram justamente o personagem “Senhor Câncer”. “Para fazer tudo girar, temos um grupo no WhatsApp chamado P.Onco, que reúne comunicadores e pesquisadores de instituições como o INCA, a UERJ, a própria UFRJ e o IFRJ. É uma rede potente, que pensa o câncer de forma integrada – do laboratório ao território”, conta Siston.
O tema é considerado "difícil". Como abordá-lo de uma forma leve e inclusiva, de modo a divulgar o que se pesquisa a respeito? “Falar de câncer ainda é um tabu – muita gente acredita que só de mencionar a doença já vai atrair coisa ruim. É um tema de carga emocional muito forte e, muitas vezes, está cercado de desinformação – tanto nas favelas quanto nos bairros mais privilegiados. E o desafio da comunicação está justamente aí: como tratar desse assunto de forma contínua, acessível e sem sensacionalismo?”, questiona Siston.
“A gente acredita que o rádio tem um poder incrível de construir relações e de criar um espaço de escuta e troca. Não se trata apenas de ‘informar’, mas de aproximar a ciência das pessoas, partindo de suas realidades. Quando falamos de câncer, falamos de uma doença complexa, multifatorial, que é a segunda maior causa de morte no mundo. Mas dá pra prevenir e cuidar. Falar de prevenção, de acesso ao cuidado, de direito à saúde não é tão difícil como falar de microbiologia molecular. Por isso, não dá pra deixar esse assunto restrito aos momentos de crise ou ao ambiente técnico dos laboratórios”, sustenta o coordenador de Divulgação Científica do Programa. “Usamos a linguagem do afeto, da escuta e da criação coletiva. Trabalhamos em parceria com comunidades, como na criação de um estúdio comunitário na Biblioteca do Engenho do Mato, em Niterói, em articulação com o Posto de Saúde da Família do bairro. A ideia é que o conteúdo da Rádio UFRJ esteja tanto nas ondas sonoras quanto no cotidiano de quem vive e cuida – seja como paciente, familiar, profissional ou pesquisador.”
Muito legal, né? E o que esperar da segunda temporada do programa? A segunda temporada chega com muitas novidades, adianta Siston. “Vamos ter dois formatos: um mais ágil, com episódios semanais de até dois minutos, trazendo o cotidiano de quem cuida e pesquisa a doença, atualidades, relatos de pacientes, opiniões de pesquisadores e vozes do próprio Programa de Oncobiologia, que reúne só instituições de ponta na pesquisa. E seguimos também com os episódios de sete minutos, que são mais produzidos e aprofundados, e que vamos lançar a partir do Simpósio de Oncobiologia em outubro – falamos sobre Inteligência Artificial e a pesquisa sobre o câncer, a questão de povos indígenas e até uma peça de teatro, ‘O Bicho Geográfico’, que esteve em cartaz no Rio de Janeiro: quando o adoecimento inspira cuidados pela arte”.
Outra notícia importante é que a Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ aprovou o projeto “Populariza a Ciência do Câncer”, proposto pela professora Gabriela Nestal, vice-coordenadora do programa. “Com isso, ampliaremos ainda mais a participação popular e vamos dar voz a histórias de vida que conectam a pesquisa científica ao cotidiano de quem vive o cuidado na prática. Estamos animados com a possibilidade de fazer ciência de forma mais aberta, horizontal e cidadã”, comemora Siston.
Lembrando que dá pra ouvir o Programa de Oncobiologia ao vivo ou a qualquer momento em nosso site ou no seu tocador de podcast favorito. Mas prioriza nosso site, pra ajudar o algoritmo a aprender que a Rádio UFRJ é importante, please!
Ah, também na quarta que vem, só que às 13h, teremos a segunda convidada do ciclo de encontros A Resiliência da Reportagem, que estou organizando com meu orientando de doutorado Luan Pazzini Bittencourt, no Auditório da Central de Produção Multimídia da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ).
Receberemos Flávia Barbosa, editora executiva dos jornais O Globo e Extra, ex-correspondente em Washington, nos EUA, e mestre em Estudos de Desenvolvimento pela London School of Economics and Political Science (LSE), na Inglaterra. A entrada é franca, sujeita a lotação do auditório.
O ciclo é parte da disciplina Reportagem I, do curso de Jornalismo da ECO/UFRJ, e tem apoio do Núcleo de Rádio e TV, órgão do Fórum de Ciência e Cultura responsável pela Rádio UFRJ. Os principais momentos da conversa serão veiculados no programa de entrevistas Papo Federal, que estreia nova temporada em agosto. A seguir registros do primeiro encontro, realizado no dia 4, com a premiadíssima jornalista Angelina Nunes, feitos pela nossa extensionista de mídias sociais Tatiana Moura. (M.K.)
Luedji Luna retorna com álbum de cura e crítica social
Citada como um movimento de cura, fino, chique e elegante, Luedji Luna chega com seu novo álbum, “Um Mar Para Cada Um”, lançado em maio de 2025. A artista reverbera, em forma de jazz e black music, questões profundas sobre a temática do amor. O trabalho chega na esteira do sucesso de “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água”, indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de MPB, e de sua versão deluxe.
O novo trabalho conta com superprodução e participações de peso, como Liniker e Zudizilla, em faixas que abordam o amor ora de maneira densa e questionadora, ora com intensidade e prazer. Em “Harém”, Luedji canta sobre a redescoberta de uma velha notícia: o homem que não presta, revelando a presença de outras mulheres em sua vida, um verdadeiro harém. Já em “Rota”, a cantora explora as experiências sensoriais e íntimas de um relacionamento entre corpos amantes, se é que me entende.
Apesar da grande imensidão do oceano, Luedji reforça a sua própria profundidade. Em texto publicado nas redes sociais, ela escreveu: “(...) O amor é uma busca sim, mas por quê? Acho respostas em mim mesma, mergulho fundo. Lá no abismo do oceano encontro seres estranhos, me estranho também, sou estranha também. (...)”. E completou: “(...) A olho nu não se enxerga, mas opera, influi e mobiliza todo um ecossistema. Acontece o mesmo dentro da gente. (...)”
“Um Mar Para Cada Um” surge como um processo de cura para a menina negra do passado, que inventava amores — já que o amor platônico era, muitas vezes, a única forma de ser amada em voz alta. A baiana canta para permanecer real, compartilhando histórias e processos, encorajando seus ouvintes a não aceitar o pouco.
O álbum convida à legitimação do amor sincero e lança um alerta, não só para as mulheres, mas para todo o público, sobre aquele que entrega o mínimo achando que é o máximo dentro de uma relação. Uma verdadeira libertação do pedido de ajuda direcionado a quem deveria ser porto seguro, mas se revela parte da tempestade.
Daniel Garcês, estudante de Jornalismo da Escola de Comunicação e extensionista da equipe de curadoria musical da Rádio UFRJ
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